PREPARANDO O ACAMPAMENTO CONTRA A CHUVA
- Allan Kronemberg

- 21 de ago.
- 13 min de leitura

Uma chuva forte e inesperada durante a noite pode lhe render um trabalho hercúleo na manhã seguinte para secar suas coisas. Aprenda a se precaver contra situações como esta, uma tempestade que você avista no horizonte ou dias intermináveis
COM O CÉU DESABANDO SOBRE SUA BARRACA


STAR PREPARADO É TUDO. Esta frase de Shakespeare é uma de minhas preferidas. Ela cabe para diversas situações da vida e, na natureza selvagem – eu diria –, é sempre o começo. Num ambiente hostil, a falta de cuidado pode levar um aventureiro inexperiente a passar por um perrengue da-que-les! Após uma noite chuvosa, sendo um acampamento em um sítio, talvez, ele acorde molhado por não ter tido o devido apreço com uma coisa básica, a sua barraca. E isto poderá render histórias até engraçadas no futuro – se a máquina fotográfica dele não acabou molhada –, mas as consequências de algumas horas encharcado no cimo de uma montanha podem ser bem mais graves.
Certamente, os mais apaixonados por trilhas e campings sabem disso e se lembrarão de algum “jângal” enfrentado por causa da chuva. Afinal, elas são frequentes na maioria do território brasileiro, um país tropical (principalmente entre setembro e abril), e porque, diversas vezes, chegam sem avisar, podendo, em menos de 5 minutos, inundar todo o acampamento. Por isso, pagar para ver os resultados de ignorar o fator “umidade” não é uma boa proposta.
Não que a chuva só traga transtorno. Ela traz adversidades e perigos, todavia, quando se está devidamente pronto para sua chegada, se torna até admirável. Por isso, a seguir, seguem alguns cuidados específicos sobre a barraca a serem tomados antes, durante e após a aventura: desde a compra na loja ou a escolha do modelo em casa, passando pela preparação do equipamento até o momento de erguê-lo e, por fim, desmontá-lo.

1) A BARRACA APROPRIADA: COLUNA D’ÁGUA E ESTAÇÕES
O primeiro passo antes de decidir o tipo de barraca que irá transportar em sua mochila é verificar o terreno para o qual pretende ir: como é o clima lá; se há alguma previsão de chuva forte; se venta muito, etc. Ciente de tudo isso – e comprovando a possibilidade de queda d’água –, é preciso atentar para a capacidade de a sua barraca suportar chuva. Isso é medido por um fator chamado “coluna d’água”.
ESTUDE O LOCAL. PREVEJA TODAS AS SITUAÇÕES. PREPARE-SE.
Toda barraca possui um valor de coluna d’água para as partes que entrarão em contato direto com a umidade. Uma barraca é formada pelo piso unido ao quarto (ou habitáculo, como queira chamar) e o sobreteto separado (barracas mais simples, sem sobreteto ou que o mesmo não cubra todo o quarto, devem ser logo descartadas para acampamentos com possibilidade de chuva. Elas são muito frágeis, de modo que até o orvalho consegue deixar seu interior úmido). O sobreteto recebe a carga direta da chuva, pois cobre o conjunto; ele possui um valor de coluna d’água. O piso, que fica em contato com o solo úmido, também apresenta um selo. São os números de um e de outro aos quais se deve prestar atenção. Ambos devem suportar a possível quantidade de água que poderá cair no local do acampamento (ou locais, caso você esteja numa travessia ou algo tipo).
A pergunta que surge é como equiparar os valores de coluna d’agua à cada tipo de chuva. Para determinar isso, as empresas realizam um teste da seguinte forma: o tecido tratado da barraca é posto na extremidade de um tubo ao qual se adiciona água. Conforme a quantidade de líquido aumenta, a pressão sobre o tecido também cresce. Quando a água começa a pingar do tecido, significa que o mesmo alcançou seu limite de resistência. Essa quantidade de água (a coluna d’água) é marcada em milímetros, sendo cada milímetro equivalente a 1 litro de água de chuva em 1 m² (1.000 mm de coluna d’água, por exemplo, significa que pode chover 1.000 litros em 1 m² que não entrará água na barraca). Os parâmetros a seguir dão uma ideia sobre esses valores e as intensidades de chuva correspondentes. Uma barraca minimamente impermeável, isto é, suficiente para algumas situações de chuva forte, possui uma coluna d’água de 1.500 mm em seu sobreteto.
Acima de 3.000 mm – indicada para situações mais extremas.
Entre 2.000 e 3.000 mm – resistente a temporais e chuvas que durem vários dias.
Entre 1.000 e 2.000 mm – capaz de suportar chuvas normais ou mesmo fortes por um período não muito longo.
De 600 a 1.000 mm – suporta apenas chuvas fracas e rápidas.
Menos de 600 mm – não recomendada para utilização na chuva.
(O uso contínuo da barraca pode afetar sua impermeabilidade original, diminuindo os valores de coluna d’água de suas partes).

Em relação às estações, as barracas são divididas em dois tipos: as de três estações, próprias para a primavera, verão e outono, e as de quatro estações, também apropriadas ao inverno. Entenda-se aí um inverno rigoroso, onde chegue a nevar e haja gelo. Para o Brasil, as barracas de 3 estações cumprem missão. Caso o destino seja a Patagônia, os Estados Unidos ou os Alpes Franceses, por exemplo, o outro tipo pode ser o mais recomendado.
Obs: Cabe, aqui, fazer uma menção que, em regiões de selva (como a Amazônia e o Pantanal) e demais áreas com abundância de árvores não tão expostas ao frio e ao vento, a escolha por outros tipos de acomodação pode vir a ser melhor do que as barracas convencionais. Isto deve-se, em parte, ao grande número de insetos no chão, à umidade do solo e à praticidade de outros bivaques. No caso de áreas assim, embora recebam quantidades de chuva até maiores do que as regiões montanhosas, redes cobertas por lonas impermeáveis e telas de mosquiteiro podem ser mais operacionais (mas isto é assunto para outro post).
Também é importante dizer que algumas empresas optam por um padrão diferente de avaliar a proteção de suas tendas contra a chuva. Elas realizam o chamado “teste do chuveiro”, no qual, dentro de um laboratório, a barraca é submetida a uma chuva artificial e precisa resistir a uma carga d’água medida em litros/hora/m². As tendas fabricadas pela marca francesa Quechua, por exemplo, precisam suportar 200 L/hora/m² durante quatro horas sem que nenhuma gota d’água penetre em seu interior. Isso equivale a duas vezes a quantidade média de água de uma tempestade comum na Europa e a empresa afirma possuírem todas as suas barracas uma coluna d’água de 2.000 mm.











