BILLY THE KID VIVO?
- Allan Kronemberg

- 11 de set.
- 7 min de leitura

A imagem de Billy the Kid posando para ser fotografado com seu revólver na cinta e o Whinchester ao lado (como no desenho acima feito a partir da foto original) é uma das clássicas cenas do Velho Oeste. Um retrato que personifica bem aqueles tempos conturbados naquele lugar distante da fronteira e também quem era o temido fora-da-lei. Possuindo mais fama e páginas do que imagens (os registros do cowboy se atêm a poucos mais além deste), tudo que surge sobre ele continua a repercutir. Quando aparece algo novo, logo atrai os aficionados pelo Velho Oeste. Assim, lá fui eu para aquelas terras atrás de mais uma boa estória sobre
THE KID


aio de 2015. Após uma longa viagem de carro, eu chegava a uma pequena comunidade rural no interior do Texas chamada Hico, no Condado de Hamilton. Meu objetivo lá era saber mais sobre um velho garimpeiro e cowboy chamado Brushy Bill Roberts. Brushy teria sido, digamos, uma pessoa muito importante e vivido no vilarejo até a metade do século passado. Consta que ele morreu em 50, logo após o Natal.
Meu interesse nesse sujeito surgiu após eu tomar conhecimento sobre uma investigação feita por um advogado de nome William Morrison que alegava ser Brushy Bill, na realidade, outra pessoa. Um Bill bem mais famoso do que o assanhado senhor que gostava de whisky e contava curiosas histórias aos moradores de Hico. Histórias de tiroteios, perseguições e outros causos do Velho Oeste.
Em 1949, Morrison foi nomeado para resolver um caso judicial envolvendo um homem chamado Joe Hines cujo irmão havia morrido em Minot, Dakota do Norte. Quando foram comprovar sua identidade no tribunal, Joe alegou ser o notório fora-da-lei Jesse Evans. Jesse foi um reconhecido pistoleiro do Velho Oeste líder de uma gangue que roubava gados (conhecida como “os Garotos”) nas terras do Novo México. Evans desapareceu em 1882 sem deixar rastros. Nunca mais se soube dele. Até, talvez, ele próprio se pronunciar diante daquele caso.
Acontece que Evans, o verdadeiro, havia cavalgado com outro pistoleiro muito famoso, Billy the Kid. Os dois chegaram a trocar tiros na Guerra do Condado de Lincoln, um conflito entre facções rivais ocorrido no território do Novo México lá pelos idos de 1878. Após essa sangrenta disputa foi que Billy ganhou sua enorme fama; era rápido e frio como todo bom atirador precisa ser. Joe Hines não só afirmou ser o próprio Jesse Evans como disse categoricamente que Billy the Kid não havia morrido em 1881 como todos ficaram sabendo. Segundo constava — e continua a constar — Billy foi alvejado e morto pelo xerife Pat Garrett. Esse feito deixou o xerife bastante conhecido: se você consegue prender o cão raivoso que fugiu da coleira, terá seu dia de glória. Ele, inclusive, foi coautor de um livro — “A vida real de Billy the Kid” — sobre aquele que se tornou o pistoleiro mais conhecido da fronteira. O livro não vendeu muito. Na página mais interessante dele, Garrett deixou anotado o relato de como conseguiu liquidar com Kid.
Em 14 de julho de 1881, Garrett visitou Fort Sumner para questionar um parceiro de Bill sobre o paradeiro do jovem. O xerife empossado já vinha numa longa busca pelo fora-da-lei e ficou sabendo que Billy estava hospedado na casa de um amigo em comum, Pedro Menard “Pete” Maxwell. Garrett e Bill foram companheiros antes de se tornarem inimigos mortais. Jogavam cartas, bebiam whisky e não viam problema em serem fotografados juntos (como mostra a foto abaixo). Por volta da meia-noite, Garrett foi à casa de Pete. Kid estava dormindo em um aposento separado, mas, de fato, se encontrava na casa. Garrett o ficou esperando. No meio da noite, Billy se levantou e, andando pelo aposento, entrou no local onde o xerife se escondia. Billy percebeu um homem entre as sombras. Não o reconhecendo, perguntou: “Quien és?” Garrett respondeu atirando nele duas vezes. O primeiro disparo atingiu Kid no peito, logo acima do coração, enquanto o outro errou o alvo. O relato de Garrett não deixou claro se Billy morreu ali, logo após o tiro, ou se levou algum tempo para isso acontecer.

Em razão daquela afirmação no tribunal, Morrison ficou intrigado. Ao questionar Hines para saber alguma pista sobre Billy the Kid, caso ele conhecesse seu refúgio durante todo aquele tempo, ficou sabendo de alguns detalhes que o levaram até o Condado de Hamilton, no Texas — para onde eu me encaminhei. Seguindo os pontos, o advogado, após inúmeras entrevistas e reunir uma série de evidências, deduziu que Brushy Bill era, na verdade, Henry McCarty, ou William H. Bonney: o famoso Billy the Kid. O mesmo havia passado todos os anos seguintes escondido sob uma nova alcunha. Virara garimpeiro e negava qualquer relação com um passado de mortes, roubos e aventuras. Embora deixasse escapar, de vez em quando, uma ou outra estória capciosa. Principalmente quando aparecia para beber algumas doses no bar de Custer em Hico e passava do ponto.
Morrison afirmou que Brushy Bill manteve-se reticente por algum tempo durante seus encontros. No entanto, após inúmeras investidas dele, Brushy abriu uma condição para contar a verdade: se ele obtivesse o perdão do governo pelos crimes cometidos no passado, diria o que Morrison queria ouvir, toda a história. Brushy Bill estava hesitante em admitir a verdade, pois, tecnicamente, havia um mandado de prisão contra Billy the Kid. Kid fora condenado à morte e, se fosse capturado, poderia ser executado.
Morrison cada vez mais tinha certeza de estar diante do verdadeiro Billy the Kid. Brushy tinha ferimentos de bala e também de faca que se encaixavam nas histórias do pistoleiro. O garimpeiro detalhou ao investigador detalhes de suas façanhas como fora-da-lei, partes importantes dos relatos atribuídos ao famigerado Billy the kid que somente o próprio poderia saber. Partes não documentadas pelos livros que se tornaram lacunas dentre os registros do atirador cujas lendas afirmavam ser responsável por matar 21 homens: um para cada ano que ele viveu — pelos registros oficiais, Billy nascera em 23 de novembro de 1859 e morrera naquele 14 de julho de 1881.
Brushy Bill demonstrou, mesmo já bem idoso, uma habilidade para escapar de algemas, algo pelo qual Kid era conhecido. Morrison também conheceu pessoas que confirmaram ser Brushy o Kid verdadeiro. Brushy — ou Kid — afirmou a Morrison, olhando nos olhos dele, que o xerife Garrett, na realidade, atirou e matou outro pistoleiro, um jovem chamado Billy Barlow. Apenas três pessoas, as únicas testemunhas do suposto assassinato de Kid foram o próprio Pat e os delegados John W. Poe e Thomas McKinney. McKinney alegava conhecer Billy superficialmente. Poe jamais o havia visto. Garrett, que também nunca vira Kid de perto, só ouvido ele gritar, deduziu ser Kid pela voz. O quarto estava escuro quando o xerife disparou. E o homem alvejado perguntou ao vulto que enxergara no escuro quem ele era apenas sussurrando. Poe, embora não conhecesse Billy, disse a Garrett que havia atirado no homem errado. McKinney, que primeiro confirmou ser o rapaz morto o próprio Kid, anos depois, contestou a história, confirmando que não era o temido fora-da-lei. Várias pessoas em Fort Sumner, na ocasião, também foram contundentes em afirmar não ser ele. Afinal, o homem com a bala no peito posto como Billy the Kid tinha barba; o que Billy nunca ostentou. Ele também possuía a pele morena. Billy tinha a pele clara. O corpo foi rapidamente enterrado num local dois dias depois da morte. Era uma área sujeita a fortes enchentes. A água espalhou e levou os ossos embora. A cova que permaneceu não possuía mais nenhum dos restos mortais de Billy.
Confirmando ser o real Kid para Morrison, Brushy Bill Roberts pediu ao advogado que cumprisse sua promessa e lhe conseguisse o perdão do governador. Ele o esperava desde que tal ato lhe havia sido prometido 70 anos atrás, em 1879, por Lew Wallace. Morrison chegou a levar Roberts, com 90 anos, à presença do governador na época do Novo México, Thomas Mabry, com quem conseguiu uma reunião em 29 de novembro de 1950. Várias pessoas, a maioria jornalistas, puderam comparecer ao encontro. Thomas, mesmo diante da afirmação de testemunhas alegando ser Roberts, de fato, Billy the Kid, não se convenceu. Ele não concedeu o indulto por alegar que Billy the Kid já estava morto. Obviamente, bombardearam Roberts com perguntas. Queriam saber se tudo o que dizia era verdade. Se ele era mesmo o famoso vilão do oeste. Roberts acabou sofrendo um ataque cardíaco no local e faleceu pouco mais de um mês depois. Brushy continuou afirmando que era, de fato, Billy.
Em busca dessa história e de mais fatos sobre o velho Brushy, passei meus dias em Hico. Não ouvi muito mais do que se tornou notório com os anos graças às buscas de Morrison. O pequeno povoado se tornou bastante conhecido. Tudo graças ao seu morador mais ilustre — isso depois que ele se foi e a história veio à tona. O homem que aquelas pessoas, em outros tempos, já carregavam a suspeita de não ser quem ele realmente afirmava ser. Elas sempre desconfiaram de algo. Foi o que um senhor me disse: “Ele nunca se sentava de costas para a porta e eu achava estranho o modo como punha a mão direita rápido na cintura ao ouvir um barulho. Eu o perguntava por que tomava aquele susto sempre. Ele despistava.”



No cemitério de Hamilton, na lápide de Brushy Bill Roberts, há um arco de pedra onde está gravado o nome de Billy the Kid. O pequeno museu da cidade diz o mesmo. Há um mistério no oeste. Exceto para as pessoas de lá que sabem com quem conviveram todos aqueles anos. Embora a imprensa e os meios oficiais não aceitem na maioria dos casos, muitos boatos podem, no fundo, ser reais.
Fazendo várias perguntas, parti de Hico para a Califórnia onde queria encontrar o sujeito que comprou uma fotografia antiga por dois dólares num antiquário e acabou milionário. O motivo: tinha Billy the Kid nela. Um dos únicos registros oficiais do pistoleiro. A propósito, na estrada, lembrei-me da foto de Billy que eu havia imprimido e levado comigo. Tinha deixado no porta-luvas do carro. Nela, Kid ostenta um revólver Colt no coldre — do seu lado esquerdo. Kid era canhoto, então. Mas o senhor disse que Brushy, ao se assustar, levava a mão direita à cintura. Pensando um pouco, após algumas milhas, lembrei: "Claro! O processo antigo de revelação produz fotos invertidas."



"QUIEN ÉS?", PERGUNTOU BILLY AO VULTO QUE ENXERGOU NO ESCURO. LEVOU DOIS TIROS COMO RESPOSTA; UM CERTEIRO QUE O MATOU. MELHOR: MATOU O AUTOR DA PERGUNTA. SE ERA MESMO BILLY, NÃO TEMOS TANTA CERTEZA











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