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BOKKA, OS SHERPAS JAPONESES

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Caminhar pela reserva de Oze, no Japão, é uma dádiva por poder contemplar os pântanos repletos de flores e as colinas manchadas de neve ao redor. Entretanto, neste lugar, não apenas a natureza chama a atenção. Homens percorrendo as trilhas com pilhas imensas de caixas nas costas fazem qualquer turista ou mochileiro se espantar. Eles são os incansáveis

CARREGADORES

BOKKA DE OZE

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apão. Um país conhecido pelo seu alto padrão de tecnologia e eficiência. Também uma nação orgulhosa de suas tradições. Nesse arquipélago, a terra dos megabytes e samurais onde, muito antes de se ouvir falar na Europa e nos Estados Unidos em inteligência artificial, robôs já eram idealizados e construídos, em Katashina, na província de Gunma, todos os dias, Norihito Ishitaka percorre o caminho até um povoado entre as montanhas de Oze para levar, nas costas, quilos e mais quilos de mantimentos. Um trabalho puramente braçal. Diante do cenário extremamente moderno, repleto de drones, dos dias atuais, tal ofício soa até estranho — principalmente se tratando dos japoneses. Ishitaka, em pleno 2025, é um elo, por assim dizer, entre o passado e o presente. Entre os que trabalham dentro daquele lugar isolado e o que vem de fora. O meio que os comerciantes locais possuem para não lhes faltar coisas simples como vegetais frescos, carne, cerveja ou aquele produto tão desejado comprado na última semana no site da “Shopee”. Norihito Ishitaka é um dos chamados bokka.


Ishitaka (visto na primeira imagem a caminhar de óculos e braços cruzados pela trilha) é um dos sete bokka que hoje se apresentam no parque de Oze e têm o trabalho de abastecer todos os lodges no interior da reserva. Os bokka, em suma, são carregadores — a palavra japonesa que os define significa isso, “carga à passos”. São trabalhadores que desafiam as leis do próprio corpo para suportar sobre os ombros pilhas de caixas com alimentos e bebidas maiores do que eles próprios e pesando acima de 90 kg (a figura de um bokka é facilmente distinguida na trilha: um sujeito com uma "mochila" de mais de dois metros sobre a cabeça). Seu esforço serve para levar suprimentos necessários aos mais de dez alojamentos remotos nas colinas e pântanos do Parque Nacional de Oze, a 150 km ao norte de Tóquio. Esses abrigos dependem deles para oferecer comida, acomodações e conforto aos inúmeros visitantes do parque.



Oze consiste uma extensa área coberta pelos pântanos elevados de Ozegahara e o lago Ozenuma situada num imenso vale cercado por montanhas com cerca de 2 mil metros entre as prefeituras de Gunma, Fukushima, Toshigi e Niigata. É a maior área pantanosa de planalto do Japão, um destino popular para trilheiros, escaladores e entusiastas da natureza. Ela possui uma vasta flora, com suas calêndulas-dos-pântanos e lírios-de-um-dia amarelos florescendo durante a primavera e uma vibrante tapeçaria de cores ao chegar do outono: o que atrai os milhares de turistas. Esse parque representa um forte exemplo dentro do Japão, um país muito ligado aos costumes antigos, de conservação. Oze possui em torno de 65 km de passarelas construídas para proteger seus frágeis pântanos de turfa. Seus dirigentes também fizeram interromper a construção de usinas hidrelétricas que represariam as fontes de água da região e se opuseram ao desenvolvimento de estradas cortando o parque. Sendo assim, o caminho para que o governo dispusesse de uma maior infraestrutura em Oze para os visitantes e os empresários pudessem manter os chalés funcionando dentro da reserva se deu por meio unicamente dos bokka.



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A NATUREZA EM OZE REFLETE BEM CADA UMA DAS QUATRO ESTAÇÕES, SENDO OS CARREGADORES BOKKA AQUELES QUE MAIS INTERAGEM COM ELA POR ESTAREM ROTINEIRAMENTE PERCORRENDO SUAS TRILHAS. O FINAL DA PRIMAVERA E INÍCIO DO VERÃO, POR EXEMPLO, É MARCADO PELO APARECIMENTO DAS FLORES MIZUBASHO ("REPOLHO FEDORENTO"), COMO MOSTRADO NA FOTO ACIMA. É QUANDO OS PÂNTANOS DE OZE FICAM BRANCOS (JAPAN TRAVEL). NA OUTRA IMAGEM, HISAYOCHI TAKEDA (1883-1972), BOTÂNICO E MONTANHISTA CONSIDERADO O "PAI DE OZE" POR HAVER LUTADO PELA PERMANÊNCIA DA ESTRUTURA SELVAGEM DO LUGAR, SEM ESTRADAS NEM BARRAGENS.
A NATUREZA EM OZE REFLETE BEM CADA UMA DAS QUATRO ESTAÇÕES, SENDO OS CARREGADORES BOKKA AQUELES QUE MAIS INTERAGEM COM ELA POR ESTAREM ROTINEIRAMENTE PERCORRENDO SUAS TRILHAS. O FINAL DA PRIMAVERA E INÍCIO DO VERÃO, POR EXEMPLO, É MARCADO PELO APARECIMENTO DAS FLORES MIZUBASHO ("REPOLHO FEDORENTO"), COMO MOSTRADO NA FOTO ACIMA. É QUANDO OS PÂNTANOS DE OZE FICAM BRANCOS (JAPAN TRAVEL). NA OUTRA IMAGEM, HISAYOCHI TAKEDA (1883-1972), BOTÂNICO E MONTANHISTA CONSIDERADO O "PAI DE OZE" POR HAVER LUTADO PELA PERMANÊNCIA DA ESTRUTURA SELVAGEM DO LUGAR, SEM ESTRADAS NEM BARRAGENS.

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QUEM
ESCREVE

O autor, ALLAN KRONEMBERG,

é jornalista, ex-militar e o criador

da marca NA FRONTEIRA. Desde novo,

Allan é aficionado por histórias

de exploradores, filmes de cowboy

e livros sobre os mais variados

temas e aventuras (com destaque

para as obras de Hemingway,

Jack London, os poemas de Bukowski,

frases de Twain e os contos hiborianos

de Howard - inclua as páginas de

"O tempo e o vento", de Érico Veríssimo,

nessa lista mais as notas pujantes de uma

canção do The Cult). Tornando-se

ele mesmo, pelos anos, um aventureiro,

Kronemberg sempre buscou na

natureza selvagem - e numa garrafa

de whisky, ele diria - a inspiração

para a vida e suas próprias estórias.

Foi dele a ideia de tornar

a NA FRONTEIRA, além de uma

grife de roupas, uma revista sobre

os mais diversos assuntos pertinentes

à rotina e aos gostos dos clássicos

aventureiros; homens e mulheres

com o espírito da tempestade

em seu sangue.

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