EXPLORADORES E SEUS RELÓGIOS INQUEBRÁVEIS
- Allan Kronemberg

- 16 de out.
- 13 min de leitura

Desde quando os relógios foram inventados, no bolso ou no pulso de cada explorador ao se embrenhar na natureza selvagem, havia um modelo pronto para enfrentar e resistir com seu dono às intempéries daquele ambiente hostil. Conheça adiante alguns relógios que ganharam fama por resistir à situações extremamente adversas e que provaram seu valor
QUANDO TESTADOS PARA VALER


mbora hoje muitas pessoas tenham aberto mão do relógio de pulso por poder acompanhar as horas com o celular sempre no bolso, a verdade é que estes objetos são feitos para fins que vão além de simplesmente mostrar as horas. Há relógios para você impressionar num jantar de gala, outros para carregar consigo num passeio de barco, para usar durante aquela corrida matinal e ajudar a cronometrar seu pace ou somente deixá-lo (ou deixá-la) mais atraente numa saída num encontro à noite. Relógios de pulso guardam um estilo. Marcam presença. Eles podem ser verdadeiras jóias e valer centenas de milhares de dólares ou constituir peças inestimáveis de desejo para ferrenhos colecionadores e horolojistas.
Mas há relógios que entram num grupo especial. Falo de peças projetadas para uma finalidade específica: resistir! Desenhadas com uma engenharia precisa, meticulosamente construída para acompanhar os exploradores a lugares inóspitos, longínquos, desumanos! Uma vez que não há campo de provas melhor do que uma expedição aos ambientes mais selvagens da natureza para demonstrar a força e a confiabilidade de um modelo — já que, lá, eles seriam testados sob as piores condições e deveriam servir aos aventureiros sem falhas —, isto seria o que os fabricantes encarariam como o desafio máximo à sua proeza de engenharia.
Há muitos relógios icônicos que acompanharam valentes heróis rumo ao desconhecido e merecem o reconhecimento por sua inestimável contribuição. Estes são apenas alguns deles. Relógios que estiveram no pulso dos primeiros homens a alcançar lugares como os pólos da Terra, as profundezas do oceano, o topo do Everest e o espaço. Descubra na lista a seguir alguns dos relógios mais resistentes já feitos e seus feitos.
NO PÓLO

Para começar nossa jornada pelos extremos do planeta e revelar os relógios que, juntamente com os exploradores, suportaram toda espécie de desafios e transtornos, falaremos do capitão Amundsen. Roald Amundsen, o primeiro homem a chegar aos dois pólos, o primeiro a navegar pela Passagem Noroeste, ao norte da América, e um dos primeiros a cruzar o Ártico pelos céus poderia ser identificado como a personificação de um desses personagens míticos de histórias que assistimos nos filmes ou lemos em gibis de aventura — o que, de fato, ocorreu: a vida do aventureiro norueguês foi tema da revista de contos para adolescentes Boy’s Own no Reino Unido e Estados Unidos durante a primeira metade do século XX.
Para Amundsen, um relógio era muito mais do que um mero instrumento para marcar as horas. Em sua bem sucedida expedição ao Pólo Sul da Terra, em 1911, um sextante e dois relógios de bolso da empresa J. Assman, de Glashütte, Alemanha, eram seus principais instrumentos de navegação. Ambos os relógios eram idênticos e sua precisão fora certificada pelo Instituto Naval Alemão, sendo um deles ajustado pela hora do local de origem, na Europa, e outro com o horário do destino da expedição, a Antártica. Ambos os relógios se encontram hoje no Museu Fram, em Oslo, na Noruega, dedicado à exploração polar e que administra a maioria dos artefatos deixados por Amundsen (o nome do museu é o mesmo do navio usado por ele em 1911). Um objeto, todavia, justamente um relógio que pertencia ao capitão, não reside lá.
O SEXTANTE E UM DOS RELÓGIOS DE BOLSO J. ASSMAN USADOS PELO EXPLORADOR NORUEGUÊS
Um descendente do explorador (que prefere se manter no anonimato), há alguns anos, compartilhou com entusiastas de relógios algumas relíquias da família, incluindo um modelo que herdou de seu famoso ancestral. Trata-se de um Benrus, presenteado por membros do Rotary Club de Nova Iorque, organização humanitária da qual Amundsen foi um dos fundadores e embaixador. A pequena peça de caixa retangular, em estilo Art Déco, lhe foi dada em 1927, quando Amundsen esteve de passagem pela Big Apple. A peça consistia um ótimo presente, uma vez que os relógios tinham acabado de sair do bolso para o pulso das pessoas. Um ano depois, Amundsen zarparia para o Pólo norte e desapareceria para sempre numa missão de resgate no Ártico. O Benrus, no entanto, não fora levado com o explorador nessa missão. Segundo seu proprietário atual, nalgum bairro de Oslo, continua funcionando perfeitamente bem depois de mais de um século de vida.


PELO ESTADO ATUAL E O ANO EM QUE O RECEBEU DE PRESENTE, AMUNDSEN PROVAVELMENTE NÃO UTILIZOU SEU BENRUS EM MISSÕES. DE TODA FORMA, É UM RELÓGIO QUE ESTEVE NO PULSO DE UM TITÃ DA ERA DE OURO DA EXPLORAÇÃO POLAR.
NO HIMALAIA
Ao descobrir, no oriente, as imensas montanhas do Himalaia e atestar serem elas os maiores picos do planeta, os exploradores do ocidente logo viram crescer dentro deles o desejo por escalá-las. A primeira das catorze montanhas com mais de 8.000 metros a ser dobrada pelos escaladores foi o chamado Annapurna. Em 3 de junho de 1950, a décima montanha da lista, com 8.091 metros, teve seu topo marcado por pegadas humanas, deixadas lá pelos alpinistas franceses Maurice Herzog e Louis Lachenal. Eles foram os primeiros superar totalmente a temida zona da morte e conseguir regressar dela. A zona da morte consistia a região acima dos 8 mil metros onde podia se notar ser o ar extremamente rarefeito e a permanência por muito tempo da vida humana impossível. Mas poderia um relógio resistir às agruras da escalada e dessa zona terrível?! Ou sofreria ele danos devido ao clima tão mortal como acontecia ao corpo humano que, dentro dela, desfalece aos poucos.

Herzog e Lachenal, membros de uma expedição franca para atingir o cume do primeiro 8 mil, eram peões destacados num tabuleiro movido pelo esforço nacionalista francês — pretenso a tornar a França a nação a alcançar a maior altitude já outorgada pelo Homem. Após uma tentativa sem sucesso de ascender o Dhaulagiri (a qual consideraram inescalável), os dois partiram para o Annapurna. Naturalmente, além do governo e do Clube Alpino da França, empresas do país também faziam parte do jogo. Por isso, uma relojoaria francesa forneceria a Herzog e Lachenal os relógios para sua empreitada (modelo acima). Um cronômetro de corda manual da empresa LIP com um pequeno mostrador dos segundos seria a estrela no pulso dos franceses. A máquina provaria sua resistência em grandes altitudes e a LIP lançaria depois uma linha inspirada no cronômetro levado pela dupla ao topo da montanha com o nome do 8 mil conquistado.

NO EVEREST

A EXPEDIÇÃO BRITÂNICA DE 1924: ANDREW IRVINE (CUJO CORPO JAMAIS FOI ENCONTRADO) É O PRIMEIRO À ESQUERDA DE PÉ. AO LADO DELE, COM UM DOS PÉS SOBRE O OMBRO DO COMPANHEIRO SENTADO À FRENTE, GEORGE MALLORY.

Um dos mistérios do Everest, a maior de todas as montanhas, é se, em 1924,
George Mallory e Andrew Irvine conseguiram atingir o topo desse monte. Talvez possam ter nele pisado (Noel Odell, outro membro da expedição, deixou registrado que os viu, num abrir das nuvens, marchando próximo do cume), mas o que se sabe é que não regressaram de lá vivos. O corpo de Mallory foi descoberto em 1999 num local na encosta do Everest com o relógio ao lado num dos bolsos da camisa: um modelo Borgel. Estava sem o cristal e com apenas tocos enferrujados no lugar dos delicados ponteiros luminosos de aço que acabaram se desintegrando. Em 1915, Mallory recebeu a patente de segundo-tenente na Artilharia da Guarnição Real britânica e, sendo um oficial, deveria possuir um relógio de pulso. Ele teria comprado o Borgel quando montou seu enxoval. Anos depois, o carregou consigo para o Everest.



ACIMA, HILLARY SE DISTRAI JOGANDA DAMA NO ACAMPAMENTO COM OUTRO MEMBRO DA EXPEDIÇÃO EM 53. NAS VÁRIAS IMAGENS, MODELOS DE ROLEX EMPREGADOS NO HIMALAIA.
Em 1953, a expedição britânica que alcançou finalmente o cume do “Big E” e voltou para contar a história foi patrocinada pela relojoaria suíça Rolex. O neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay, responsáveis pelo feito, possuíam, cada um deles, um Oyster Perpetual num dos pulsos (a Rolex entregara um modelo para cada membro da expedição e, até hoje, ostenta com o devido orgulho o fato de ter sido o relógio a primeiro alcançar os 8.848 metros do cimo do mundo). Hillary, contudo, carregava consigo, além do Rolex, outro cronômetro: um Smith’s Deluxe que ele usava continuamente. Na época, Hillary fez uma espécie de propaganda do relógio, afirmando tê-lo levado ao topo do Everest. A frase registrada por ele num anúncio da relojoaria inglesa, “Eu carreguei seu relógio ao topo. Ele trabalhou perfeitamente.”, não deixou claro, entretanto, se a peça estava num de seus bolsos ou no outro pulso do escalador, que nunca explicou direito a história. Fato é que, assim como a Rolex — que hoje possui em sua linha o modelo Explorer, uma réplica, por assim dizer, do relógio usado na conquista —, a marca também passou a se gabar de ter chegado ao topo do mundo, lançando, inclusive, peças inspiradas na expedição triunfante.
ACIMA, O SMITH'S ORIGINAL DE HILLARY E O ANÚNCIO QUE DEIXOU UM AR DUVIDOSO SOBRE ELE ESTAR OU NÃO NO PULSO DO MONTANHISTA AO CHEGAR AO TOPO. LOGO ABAIXO, UM MODELO EXPLORER LANÇADO PELA ROLEX POSTERIOR À ESCALADA DO EVEREST. A SEGUIR, TENZING EXPERIMENATNDO UM MODELO E UM ROLEX PRESENTEADO A ELE.

NO EVEREST SEM OXIGÊNIO E NA ANTÁRTICA

MESSNER (ESQ) E HABELER NO CAMPO BASE DO EVEREST EM 78
Embora, diferentemente do corpo humano, para o mecanismo do relógio, isto não influa — esteja o montanhista usando ou não oxigênio suplementar, o relógio estará exposto às mesmas agruras —, quando o italiano Reinhold Messner e o austríaco Peter Habeler, em 1978, se tornaram os primeiros a atingirem o topo do mundo sem oxigênio extra, usavam cada um também um Rolex. Era, contudo, um modelo diferente do utilizado mais de duas décadas atrás por Hillary e Tenzing. A Rolex aproveitou a oportunidade para dissipar a noção de que as peças feitas com movimento à quartzo eram de alguma forma mais frágeis do que seus equivalentes mecânicos. A dupla em 78 utilizou, portanto, um Rolex Oysterquartz Datejust.
Messner escalou não apenas o Everest sem oxigênio suplementar, mas todos os catorze 8.000 existentes: o primeiro ser humano a fazê-lo. Entre 1989 e 90, ele se propôs a realizar uma jornada cruzando o continente antártico sem trenós puxados por cães ou veículos de neve — uma viagem que descreveu como “um inferno”. No dificílimo trajeto ao sul, Messner empunhou em seu pulso não um Rolex, mas um Omega Speedmaster Professional.


Na imagem mais acima, Messner chega ao Pólo Sul mostrando o Omega Speedmaster em seu pulso. Abaixo, uma propaganda da Rolex enfatizando suas conquistas no Everest e tendo o montanhista neozelandês Ed Hillary, primeiro a escalar a montanha em 53, e o montanhista italiano, primeiro a escalar o pico sem oxigênio suplementar no ano de 78, lado a lado.
EMBORA RELÓGIOS MECÂNICOS POSSUAM UM VALOR, EM GERAL, MAIS ELEVADO DO QUE OS INSTRUMENTOS A QUARTZO (MUITO PELO FATO DE UTILIZAREM UM MECANISMO EXTREMAMENTE COMPLEXO PARA COMPUTAR AS HORAS E, NA FALTA DE UMA PALAVRA MELHOR, OBSOLETO), A PRECISÃO DESTES É MUITO MAIOR. UMA CURIOSIDADE INCLUSIVE: QUALQUER RELÓGIO BARATO FABRICADO NA CHINA, POR EXEMPLO, NÃO TERÁ NEM DE LONGE A ROBUSTEZ E A IMPONÊNCIA DOS CARÍSSIMOS SUÍÇOS, MAS, EM TERMOS DE PRECISAR AS HORAS, MINUTOS E SEGUNDOS, ESTARÃO À FRENTE.
NAS PROFUNDEZAS

Sinônimo de infindas descobertas marítimas, o oceanógrafo e conservacionista francês Jacques Cousteau manteve em seu pulso alguns dos melhores relógios projetados para o mergulho. Cousteau contribuiu em larga escala para o desenvolvimento desse tipo de máquina. A pressão criada dentro dos aparelhos mecânicos submersos representava um desafio à engenharia das fábricas nos anos 1950. Assim, suprir os mergulhadores com instrumentos cujas engrenagens fossem capazes de resistir ao enorme estresse do ambiente subaquático significava um avanço em potencial e também uma ótima jogada de marketing. E a equipe de Cousteau era a melhor para testar isso.


Em seus documentários sobre as profundezas do oceano, como o vencedor do Oscar e da Palma de Ouro em Cannes, “O mundo silencioso”, de 1956, marcas como Rolex e Omega podem ser seguidamente notadas nos punhos dos mergulhadores. Também membros da equipe de Cousteau ostentam peças suíças Blancpain Fifty Fathoms (50 Braças) — da mais antiga das fabricantes de relógios do mundo. Já o chefe Cousteau, embora tenha utilizado diversas vezes modelos como o Submariner da Rolex e o Seamaster da Omega, viria a mostrar sua preferência pelo Doxa SUB300 com seu marcante mostrador laranja.

DENTRE OS VÁRIOS RELÓGIOS EXTREMAMENTE EFICIENTES DE MERGULHO UTILIZADOS POR COUSTEAU, A PREDILEÇÃO DO EXPLORADOR FRANCÊS FICAVA COM O MARCANTE DOXA.
O ICÔNICO MOSTRADOR LARANJA DO DOXA SUB, COM SUA ALTA VISIBILIDADE, TORNOU-SE UMA IMAGEM EMBLEMÁTICA DA ERA DE OURO DA EXPLORAÇÃO OCEÂNICA, ESTANDO LIGADO DIRETAMENTE A COUSTEAU.
AO ESPAÇO E À LUA
O primeiro homem a viajar pelo espaço foi o soviético Yuri Gagarin em 12 de abril de 1961. Dentro da cápsula Vostok 1, ele percorreu toda a órbita do planeta Terra tendo, no braço direito, um Sturmanskie de corda manual. Produzido por uma fábrica de relógios de Moscou e sendo um resistente modelo pensado para servir aos pilotos da Força Aérea soviética (a palavra Sturmanskie pode ser traduzida como “navegador”), este relógio permaneceu por uma hora e quarenta e oito minutos no pulso de Gagarin no espaço: o primeiro mecanismo em órbita. Até hoje, a empresa — agora, apenas sob a bandeira russa, não mais da URSS — produz relógios inspirados no feito do cosmonauta.

Quanto ao nosso satélite natural, é fato que ele sempre esteve na órbita de nossos mais profundos pensamentos. A possibilidade de um pouso lunar habitou por muito tempo o imaginário de cada explorador com os pés fincados em terra. Aquele capaz de realizar primeiro tal feito daria o recado ao mundo de que sua tecnologia era superior a todas as outras. Em 20 de julho de 1969, numa transmissão ao vivo exibida pela NASA da missão Apollo 11, os astronautas norte-americanos Neil Armstrong e Buzz Aldrin foram mostrados alunissando seu módulo no poeirento solo lunar. Foi a primeira vez que um ser humano pôs os pés num corpo celeste fora da Terra. E os dois tinham presos em seus robustos uniformes brancos, cada um, um Omega Speedmaster.


A relação da suíça Omega com a NASA se iniciou em outubro de 1962 quando o astronauta Wally Schirra usou seu modelo pessoal a bordo da missão Mercury Atlas 8, a qual realizou seis órbitas em torno da Terra. Nesse mesmo ano, em fevereiro, pela primeira vez na história, um americano foi posto em órbita: o astronauta John Glenn. Ele usava sobre seu traje espacial também um relógio suíço, mas da marca Tag Heuer (um stopwatch modificado para se adaptar ao seu uniforme que serviu como um cronômetro secundário). Três meses após essa missão, o astronauta Scott Carpenter repetiria o feito de seu antecessor na cápsula Aurora 7 trajando um Breitling Navitimer Cosmonaute, um verdadeiro mini-computador acoplado ao pulso (capaz de realizar contas matemáticas, determinar o consumo de combustível e médias de velocidade — o que, numa era sem os mecanismos avançados de hoje em dia, representava um verdadeiro avanço). Embora o Speedmaster Professional fosse um relógio voltado para competições de carros de corrida, acabou sendo o escolhido após ser atestado pela agência norte-americana em inúmeros testes. O cronógrafo de corda manual e taquímetro saiu-se bem nas provas que envolviam uma série de condições severas impostas à máquina, confirmando sua engenhosidade e segurança. O teste final, óbvio, seria na missão in loco. Mas o Speedmaster provou, fora da Terra, sua robustez.
Embora a Omega fornecesse todos os relógios para as missões espaciais e os mesmos fossem confiscados pela NASA após o retorno dos homens à Terra, em 1971, o astronauta David Scott burlou essa regra. Durante a missão Apollo 15 (cujo objetivo era passar mais tempo em solo lunar e explorar uma área maior do que as anteriores), o cristal do Speedmaster de Scott simplesmente pulou fora. Isso impossibilitaria seu uso. Como Scott necessitasse de um relógio para contabilizar o tempo, principalmente fora do módulo, decidiu usar o Bulova que havia transportado consigo de forma não oficial. O cronógrafo se saiu bem e, por se tratar de um relógio particular, ao término da missão, pode ficar com o próprio dono. Em 2015, este Bulova foi leiloado pelo valor de 1,6 milhão de dólares.

OS RELÓGIOS DOS ASTRONAUTAS ERAM ADAPTADOS PARA SEREM USADOS POR CIMA DO GROSSO TRAJE ESPACIAL. PARA ISSO, DE FORMA SIMPLES, RETIRAVA-SE AS IMPONENTES E CARAS PULSEIRAS DE FÁBRICA E SE COLOCAVA UM VELCRO AJUSTÁVEL NO LUGAR. O PRÓPRIO DAVID SCOTT PRECISOU FAZER ISSO COM SEU BULOVA (ACIMA) QUANDO O RELÓGIO QUE HAVIA LEVADO DEU UM PROBLEMA.
O BULOVA QUE FOI AO ESPAÇO PERTENCENTE AO ASTRONAUTA DAVID SCOTT E ACABOU SENDO USADO NA MISSÃO APOLLO 15 PÔDE PERMANECER COM SEU DONO QUANDO DO RETORNO À TERRA. EM 2015, ELE FOI LEILOADO POR UM VALOR QUE EXCEDEU 1,6 MILHÃO DE DÓLARES.
De todos os relógios citados acima e que empreenderam grandes missões com sucesso no espaço, o primeiro, na realidade, a ser exposto totalmente ao vácuo absoluto, fora de qualquer cápsula ou proteção, foi um cronógrafo soviético. Após se lançarem na frente na corrida espacial com a viagem orbital de Gagarin, os soviéticos decidiram por fazer um homem deixar a espaçonave e andar pelo espaço. Assim, em 18 de março de 1965, o cosmonauta Aleksei Leonov realizou a primeira caminhada espacial, apelidada spacewalk, expondo no pulso um modelo Strela referência 3017.
Até a década de 70, o Strela 3017, robusto e dotado com um bonito taquímetro e um telêmetro, foi o relógio preferido pelos cosmonautas da ex-União Soviética. Ao deixar a cápsula, durante a pioneira missão no espaço, a diferença de pressão fez o traje de Aleksei inflar demais. Isso atrapalhou seus movimentos. Ao tentar retornar para o interior, o cosmonauta percebeu que não conseguiria passar pela câmara de descompressão. Com a tensão agindo sobre o controle da nave, sob o comando de outro cosmonauta, Pavel Belyayev, e o comando em terra, Aleksei tomou uma das decisões mais difíceis que alguém poderia realizar no espaço: despressurizar seu próprio traje; isso poderia matá-lo. Sem comunicar sua decisão à base em Baikonur, no Cazaquistão, ele vazou metade do ar de seu traje por uma válvula crendo ser a única forma de sobreviver (se não fizesse isso, não poderia retornar à cápsula e a morte era certa). Felizmente, conseguiu voltar ao compartimento da Vostok 2 e sentar-se novamente ao lado do amigo Belyayev. Uma falha posterior no sistema de reentrada da Vostok os obrigou a manualmente guiá-la para a Terra. Os dois, por fim, pousaram em uma área de florestas numa região isolada da Sibéria. Ambos com seu Strela preso ao pulso e ainda funcionando.































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