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VERIFICANDO DISTÂNCIAS NO TERRENO

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Conseguir determinar medidas no campo é um fator importante. Presumir a distância entre dois morros, o quanto você se encontra da outra margem de um rio, a altura de uma colina ou o espaço entre duas árvores pode ser particularmente útil numa empreitada. Por isso, leia este artigo e aprenda como, usando o próprio corpo e o conhecimento, é possível

AFERIR DISTÂNCIAS

NO TERRENO


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o mato, o corpo é a ferramenta natural para aferir medidas. Para tal, um aspecto básico é ter em mente o conhecimento de suas próprias dimensões. Todos conhecem sua altura dos pés à cabeça e peso, mas quanto você mede com o braço levantado? E quanto pesa com a mochila nas costas? No terreno, pode valer a pena saber, por exemplo, o comprimento de sua envergadura (a medida da extensão dos braços estendidos horizontalmente em cruz), de um palmo seu esticado, a medida de suas pernas abertas lateralmente e, principalmente, o valor médio de seu passo.

           

É útil, inclusive, marcar numa vara algumas medidas-padrão (10 cm, 30 cm, 50 cm, 1 m, etc). Faça isso num galho que você encontre no mato e utilize como bastão de trekking — ou no próprio bastão usando fitas. Nesse sentido, saber quanto mede seu facão ou outro instrumento que seja de uso frequente na trilha também ajuda.


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Quanto ao passo, essa é a medida natural mais usada. Conheça quanto mede, aproximadamente, a sua passada ou passo largo (passo largo é o comprimento de dois passos). Para isso, tenha ciência de quantas passadas realiza em uma certa metragem. Divida a área percorrida pelo número de passos e determine o tamanho da passada: dobre esse número para os passos largos.

 

Digamos que alguém faça 50 metros em 60 passadas normais num terreno plano (lembre-se, meça o andar no meio da caminhada: dê alguns passos antes de começar a contar e outros depois. Suas primeiras e últimas passadas não costumam refletir bem o comprimento médio do seu andar). Cada passada dessa pessoa tem em torno de 80 centímetros (= 50 metros/60 passadas); o passo largo, 1, 60 m. Na natureza, numa trilha reta, ela saberá que, após dar 120 passos, terá completado 100 metros aproximadamente.


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É claro que não há necessidade de caminhar contando passos. Todavia, em algumas situações como precisar deixar o abrigo à noite, isso pode ser necessário. Sendo o caso, registre as distâncias com um contador mecânico ou de alguma forma inventiva: a cada “x” metros, coloque uma pedra no bolso, dê um talho na machadinha ou faça um nó num cordel.

           

O seu ritmo de passada indicará o quanto irá demorar para completar um itinerário. De acordo com o relevo e o tempo, esse ritmo pode ser mais ou menos acelerado; atente para isso. Encostas alargam a passada na descida e encurtam na subida; o vento de frente diminui o passo, já o de cauda apressa; superfícies de areia, cascalho e lama retardam o movimento, assim como elementos como chuva, neve ou granizo; Se estiver usando alguma roupa pesada, afetará seu deslocamento; a fadiga tornará a passada menor. Observando o terreno, é possível estimar sua velocidade para cada trecho e o prazo para conclusão total da jornada.


TODOS GUARDAM SUA ALTURA E PESO DE COR, MAS É IMPORTANTE TAMBÉM CONHECER OUTRAS MEDIDAS DO SEU CORPO: SUA ENVERGADURA, SEU BRAÇO, SEU PALMO, SUA ALTURA COM O BRAÇO LEVANTADO E, PRINCIPALMENTE, SUA PASSADA.


A MEDIDA DE SUA PASSADA E PASSO LARGO (UMA PASSADA COMPLETA, ISTO É, DOIS PASSOS) É A MELHOR FORMA DE AFERIR DISTÂNCIAS PRÓXIMAS NO TERRENO. COMO EXEMPLO, EM PROVAS DE ORIENTAÇÃO, APÓS A MEDIÇÃO FEITA COM A BÚSSOLA, A LOCALIZAÇÃO DO PONTO AO QUAL SE DESEJA CHEGAR É OBTIDA POR MEIO DA DISTÂNCIA FORNECIDA. PARA SE CHEGAR A ELA COM EXATIDÃO, O SUJEITO DEVE MARCHAR NA DIREÇÃO CORRETA CONTANDO A METRAGEM POR MEIO DE SEUS PASSOS.
A MEDIDA DE SUA PASSADA E PASSO LARGO (UMA PASSADA COMPLETA, ISTO É, DOIS PASSOS) É A MELHOR FORMA DE AFERIR DISTÂNCIAS PRÓXIMAS NO TERRENO. COMO EXEMPLO, EM PROVAS DE ORIENTAÇÃO, APÓS A MEDIÇÃO FEITA COM A BÚSSOLA, A LOCALIZAÇÃO DO PONTO AO QUAL SE DESEJA CHEGAR É OBTIDA POR MEIO DA DISTÂNCIA FORNECIDA. PARA SE CHEGAR A ELA COM EXATIDÃO, O SUJEITO DEVE MARCHAR NA DIREÇÃO CORRETA CONTANDO A METRAGEM POR MEIO DE SEUS PASSOS.

Entra aí outro detalhe importante, o saber estimar distâncias através da avaliação visual. Para tal, como antes, é importante levarmos um pré-conhecimento em nossa bagagem mental para o campo. Decore a medida de coisas que lhe são próximas (na horizontal e vertical). Por exemplo: a medida de sua rua, a altura do prédio onde mora, a distância de sua casa até a cerca do sítio. Conhecendo essas medidas, visualize esses locais/estruturas no terreno e mensure um valor aproximado para a distância que deseja saber fazendo uma comparação visual. Digamos que você está diante de uma queda d’água que tem a altura aproximada da igreja do seu bairro. Você sabe que a igreja possui 30 metros. Logo, terá uma ideia do tamanho da cachoeira.

 

Um bom parâmetro é a medida de um campo de futebol. Caso esteja habituado a praticar esse esporte ou assistir partidas no estádio, deve saber que, em média, a medida do campo vale 100 metros. Projete dez campos num terreno e saberá que esse trecho possui em torno de 1 km.

           

IMAGINAR QUANTOS CAMPOS DE FUTEBOL EXISTEM ENTRE VOCÊ E SEU OBJETIVO NO TERRENO É UMA BOA FORMA DE MENSURAR A DISTÂNCIA ENTRE O DOIS. CONSIDERANDO QUE UM CAMPO POSSUI APROXIMADAMENTE 100 METROS, BASTA FAZER A MULTIPLICAÇÃO.
IMAGINAR QUANTOS CAMPOS DE FUTEBOL EXISTEM ENTRE VOCÊ E SEU OBJETIVO NO TERRENO É UMA BOA FORMA DE MENSURAR A DISTÂNCIA ENTRE O DOIS. CONSIDERANDO QUE UM CAMPO POSSUI APROXIMADAMENTE 100 METROS, BASTA FAZER A MULTIPLICAÇÃO.

Outras considerações úteis à aferição de distâncias: até 50 metros, pode-se discernir claramente os contornos da face de uma pessoa; a 100 metros, isso se torna confuso. Até 500 m, consegue-se reconhecer as cores das roupas de alguém ou de algum objeto. No caso de penetrar lugares selvagens que o obriguem a andar armado para se proteger (e onde isso seja permitido), saiba a distância que consegue atirar com sua arma de fogo — para matar e ferir.

 

Tenha a devida atenção aos fatores que podem enganar sua avaliação: um lençol d’água ou um campo de neve entre vocês, objetos muito iluminados, o fato de se encontrar numa cota mais alta ou mais baixa do que seu objetivo — tudo isso faz parecer que o objeto esteja mais perto. No caso de estarem ensombrados, situados para além de um vale, terem a mesma cor de fundo do horizonte, maquiados numa neblina de calor (como uma miragem no deserto) ou, simplesmente, por você estar ajoelhado ou deitado, eles parecerão mais longínquos.


DECORE A MEDIDA DE COISAS QUE LHE SÃO PRÓXIMAS, TANTO NA HORIZONTAL COMO NA VERTICAL, COMO A EXTENSÃO DE SUA RUA, A ALTURA DE SEU PRÉDIO, A DISTÂNCIA ENTRE SUA CASA E A CERCA DO SÍTIO. CONHECENDO ESSAS MEDIDAS, FAÇA UMA COMPARAÇÃO VISUAL NO TERRENO E MENSURE UM VALOR PARA A DISTÂNCIA QUE DESEJA SABER.


Um meio de determinar a medida de um rio, lago ou pântano é localizar um ponto fixo na outra margem dele (como um tronco ou pedra) e traçar uma reta imaginária até a posição em que você está. Percorra uma distância qualquer perpendicular a essa reta. Repita essa distância duas vezes (marcando a posição correspondente a dois terços dela). Onde parar de caminhar, ande 90° contra o sentido do rio ou outro lugar medido contando os passos. Quando puder com os olhos alinhar o ponto marcado (2/3) com o objeto escolhido na outra margem, o que tiver andado valerá cerca de metade do tamanho do obstáculo natural que deseja, possivelmente, atravessar.


Uma outra técnica, esta para medir alturas, é caminhar em linha reta cerca de 9 metros desde a base do objeto e pôr uma vara comprida fincada no chão. Siga mais um metro nesse sentido e ponha o rosto junto ao solo para observar daí o cimo do objeto. Grave onde a linha de observação atravessa a vara. A altura em centímetros do chão a esse ponto na vara corresponderá, aproximadamente, a do objeto em decímetros. Por exemplo, se o topo de uma árvore é visto a 70 cm na vara, ela deve medir em torno de 7 m (= 70 dm).

 

Conhecendo as distâncias e tendo sempre uma referência no terreno, é possível projetar o período de cada trecho de marcha, fazendo assim o básico para a progressão no terreno. O básico! A natureza é bastante complexa e exige treinamento. Vivência! Tudo o que se lê aqui precisa ser experimentado na prática.


SABER A QUE DISTÂNCIA UMA TEMPESTADE ESTÁ DE VOCÊ NÃO É DIFÍCIL. BASTA CONHECER A VELOCIDADE DO SOM NO AR (350 M/S APROXIMADAMENTE) E CONTAR QUANTOS SEGUNDOS LEVAM ENTRE O CLARÃO DO RAIO, VISTO AO LONGE, E O RUGIR DO TROVÃO, OUVIDO PERTO. REALIZANDO UMA CONTA SIMPLES, VOCÊ CHEGA A ESTE VALOR.
SABER A QUE DISTÂNCIA UMA TEMPESTADE ESTÁ DE VOCÊ NÃO É DIFÍCIL. BASTA CONHECER A VELOCIDADE DO SOM NO AR (350 M/S APROXIMADAMENTE) E CONTAR QUANTOS SEGUNDOS LEVAM ENTRE O CLARÃO DO RAIO, VISTO AO LONGE, E O RUGIR DO TROVÃO, OUVIDO PERTO. REALIZANDO UMA CONTA SIMPLES, VOCÊ CHEGA A ESTE VALOR.

Para concluir, duas coisas que têm bastante a ver com a aferição de distâncias e a natureza. Uma delas trata-se de um ensinamento básico que, antigamente, era explicado pelos professores aos alunos já no primário — lembro de minha saudosa professora, tia Rosângela, ensinar isso na quarta série. Quando estiver acampando ou fazendo uma trilha, pode surgir uma tempestade no horizonte. Para saber a qual distância você está dela, faça um cálculo rápido: ao avistar o clarão do relâmpago, conte os segundos até ouvir o trovão. Então, multiplique esse número por 350. O resultado será a distância em metros entre você e a chuva. O som se propaga no ar a uma velocidade aproximada de 350m/s (343 para ser exato). Ele é mais lento que a luz (que possui uma velocidade de 300 mil km/s). Por isso ouvimos o som do trovão depois de enxergar o relâmpago — a menos que a tempestade esteja sobre nós ou muito perto. Logo, cada segundo de sua conta equivale a cerca de 350 metros que o som precisou percorrer para chegar até os seus ouvidos (você pode também dividir o número de segundos por 3 e obter o resultado aproximado em quilômetros). Daí, se você conta seis segundos, por exemplo, significa que o temporal está a 2,1 km de você: 6 x 350 = 2100 m ou 6 / 3 = 2 km. Se logo depois, sua conta cai para 3, quer dizer que a chuva está vindo e é melhor se abrigar.


A outra coisa interessante, a título de curiosidade — e que você já deve ter visto em algum filme de faroeste ou lido em algum gibi do gênero —, é como medir a distância de aproximação de um trem na via. Essa cena é clássica: um cowboy colocando a mão no trilho para saber quão distante ele está da locomotiva ou um índio encostando a orelha no solo para descobrir se a cavalaria está perto. O som se propaga em sólidos, como o aço dos trilhos, muito mais rápido do que no ar: 5.960 m/s (6 km/s aproximadamente; também na água ele bem é mais rápido, 1480 m/s, isto é, 1,5 km/s arredondando). Logo, quando se encosta a mão no trilho ou se aproxima o ouvido do chão, qualquer coisa que esteja a caminho e produza um som potente o suficiente (como um trem repleto de vagões ou um grupo grande de cavalos galopando) fará sentir uma certa vibração; e ela será maior ou menor de acordo com a distância. Assim, os índios e cowboys, muito bem treinados, conseguiam aferir pelo solo ou pelos trilhos se os seus alvos estavam próximos o suficiente melhor do que aguardando para ouvi-los pelo ar — o que levaria bem mais tempo e pode ser que ficasse perto demais.


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Só lembre-se de, caso tenha que atravessar algum trilho, não bancar o cowboy ou índio experiente. Observe ao longe os dois lados da via, ouça bem e julgue se dá ou não para cruzá-la. Olhe a sinalização se houver. Se for o caso de precisar cruzar uma ponte de trilhos — como na clássica cena do filme “Conta comigo” dos garotos aventureiros precisando saltar para não serem pegos pela locomotiva —, procure, primeiro, outro meio para atravessar o trecho. Não o encontrando, e sendo realmente necessário fazê-lo, tenha cuidado redobrado com seus passos na ponte (uma queda pode ser fatal) e absoluta certeza que o trem não aparecerá.


OS ÍNDIOS E COWBOYS USAVAM OS TRILHOS E O SOLO PARA SABER SE O TREM OU A CAVALARIA ESTAVAM SE APROXIMANDO PORQUE O SOM SE PROPAGA PELOS SÓLIDOS MUITO MAIS RÁPIDO DO QUE PELO AR. ENCOSTANDO NESSAS SUPERFÍCIES, ELES CONSEGUIAM SENTIR A VIBRAÇÃO PRODUZIDA POR ELES MUITO ANTES DE PODEREM OUVÍ-LOS POR ESTAREM JÁ PERTO O SUFICIENTE.



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A cena da ponte em "Conta comigo" ("Stand by me", título em inglês, de 1986 e direção de Rob Reiner, baseado no livro "O corpo" de Stephen King). O filme tem outras passagens marcantes, como o trecho das sanguessugas e da competição de tortas. Uma obra sobre aventura e amizade. Ótima pedida para, depois de aprender sobre como avaliar distâncias no mato, fazer uma sessão de cinema em casa. §


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QUEM
ESCREVE

O autor, ALLAN KRONEMBERG,

é jornalista, ex-militar e o criador

da marca NA FRONTEIRA. Desde novo,

Allan é aficionado por histórias

de exploradores, filmes de cowboy

e livros sobre os mais variados

temas e aventuras (com destaque

para as obras de Hemingway,

Jack London, os poemas de Bukowski,

frases de Twain e os contos hiborianos

de Howard - inclua as páginas de

"O tempo e o vento", de Érico Veríssimo,

nessa lista mais as notas pujantes de uma

canção do The Cult). Tornando-se

ele mesmo, pelos anos, um aventureiro,

Kronemberg sempre buscou na

natureza selvagem - e numa garrafa

de whisky, ele diria - a inspiração

para a vida e suas próprias estórias.

Foi dele a ideia de tornar

a NA FRONTEIRA, além de uma

grife de roupas, uma revista sobre

os mais diversos assuntos pertinentes

à rotina e aos gostos dos clássicos

aventureiros; homens e mulheres

com o espírito da tempestade

em seu sangue.

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