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O ESPÍRITO COMANDA: OS ATRIBUTOS DO BOM EXPLORADOR

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Partir numa travessia por dias, dentro da mata, pelas altas montanhas ou extensos campos, significa mergulhar num mundo de paisagens deslumbrantes e sensações jamais encontradas na cidade: algo sublime! Mas é também explorar territórios desconhecidos, primitivos, mais ou menos hostis. Talvez seja mais fácil enxergar os perigos e as dificuldades de uma expedição ao Alasca, mas há pessoas que se perdem na Floresta da Tijuca. Portanto, longe de ser uma experiência meramente prazerosa, aventurar-se na natureza sempre envolve algum risco, menor ou maior. Superar limites físicos e psicológicos é uma das grandezas proporcionadas pelos sertões. Na natureza selvagem, tudo é conquistado à base de alguma dose de sacrifício. Daí, falarmos da importância neste artigo dos


ATRIBUTOS PRIMORDIAIS

AO BOM EXPLORADOR



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ADAPTAÇÃO, IMPROVISAÇÃO, ENTUSIASMO E FOCO


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star em um ambiente selvagem requer vivos na alma quatro atributos. Longe de ser uma experiência puramente deleitosa, explorar significa arriscar-se. É conhecer a si próprio.

           

Ao partir numa trilha por dias, você irá mergulhar num mundo semelhante ao de nossos antepassados; ao dos homens da montanha, da fronteira — com nada para te ajudar além de suas forças e sua própria cabeça. Não há eletricidade, não há geladeira, não há placas mostrando o caminho! As coisas simples, facilmente à mão na vida cotidiana da cidade, lá, são um luxo inacessível. Por isso, adaptar-se é essencial. E este é o primeiro atributo: a adaptação!

               

A adaptação envolve, primeiro, deixar para trás todo conforto. Na natureza, tudo é mais bonito e tudo também é mais difícil. Não espere coisas simples e óbvias na cidade como comer sentado à mesa ou mesmo poder se sentar em uma simples cadeira para jantar. As refeições serão servidas como puder e você irá desfrutá-las sobre uma pedra improvisada como banco ou sentado no chão mesmo. Dependendo da situação, pode não haver comida, sendo necessário, em condições extremas, coletar, pescar ou caçar. Banho quente?! Talvez você mal faça uso do sabonete por dias ou semanas — pode até ficar sem banho algum tempo: encare uma escalada no Himalaia! À noite, no lugar da cama, o chão duro lhe servirá de estrado. Não chover, dependendo da situação, deverá ser uma prece constante, assim como achar a trilha certa. Pequenas coisas lhe darão uma sensação mínima de prazer, mas que, na natureza — diante da falta de tudo — terão um impacto tremendo: um garfo, um riacho, um tronco, um saco de dormir. O pouco, nela, vale muito!

           

Todo mundo leva para o mato um pouco de melindre. É a “frescura” natural imposta pela proteção e comodidade da vida urbana que, no selvagem, não existem. Na menor trilha, apesar disso, essa frescura já começa a ser dissecada: na primeira poça, é comum se notar o cuidado das pessoas em evitar ao máximo pisarem na lama só para não sujar o calçado. No terceiro dia de aventura, quando as sucessivas horas de ambientação e convivência com o mato já incorporaram na alma, o pé passa pela lama como se fosse um ladrilho: sem receio. Às vezes, até sem o cuidado necessário.


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Sem os meios disponíveis que facilitam a vida tão comuns em nossa casa, no processo de adaptação, improvisar passa a ser uma exigência. Eis aí o segundo atributo. Improvisar o fogo, o abrigo, a cama. Tudo no mato é uma questão de im-pro-vi-sa-ção! De conseguir, daquele lugar, os meios ou levá-los de alguma forma na mochila. Carregue um fogareiro ou faça uma fogueira; monte uma cabana ou leve uma barraca. Agir com perspicácia torna a lida menos difícil, mais reconfortante.


Se olharmos para o passado, nos primórdios, os seres humanos improvisaram quando perceberam que o fêmur de um animal abatido a pedradas podia ser usado como um tacape. Improvisaram quando usaram a pele de uma animal como cobertura contra o frio. Quando descobriram o fogo — que não só aquecia, mas também tornava os alimentos mais saborosos — e ao notar que lascas de pedra cortavam com facilidade, passando a desenvolver lanças e facas.


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Definitivamente, a adaptabilidade está ligada à improvisação. Não fosse ela, os homens não teriam encontrado uma maneira de explorar os lugares mais longínquos e inóspitos do planeta. Nossa inteligência é nossa principal arma. Aquela que permitiu encontrar o caminho para avançar e permanecer. Continuar seguindo sem precisar recuar. É a marcha indubitável, a marca do ser humano. E unindo-se ao nosso espírito indomável ela nos permitiu tantos avanços. E é sobre esse espírito, tão importante quanto, que falaremos agora.


O grau de abnegação e o modo de improvisar as coisas ditam o ritmo de cada jornada na selva, mas não são tudo. Existe uma rotina a vencer: a de, hora após hora, dia após dia, ter de superar as dificuldades esperando lograr algum êxito, seja ele pernoitar em uma montanha, chegar a algum difícil lugar no horizonte ou mesmo sobreviver. Em situações vividas no limite, o entusiasmo é a alavanca que impulsiona o ser. O espírito comandando o corpo! O entusiasmo, o moral, é a troca de sentimentos com a natureza e consigo mesmo. É o fator preponderante para se manter disposto independente do ambiente ou da situação. Eis mais um atributo importante.

           

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Na Segunda Guerra Mundial, cigarros eram distribuídos aos soldados para que pudessem relaxar em meio aos combates. Uma coisa simples, digamos, não saudável, mas que funcionava para elevar o moral. Na natureza, como foi dito, o ânimo que brota de gestos triviais, das pequenas coisas como escovar os dentes ou se olhar num pequeno espelho com o cabelo penteado ou o rosto limpo revigora a alma. O mínimo conduz ao máximo. Tudo é um conjunto de ações — e sensações — cuja soma leva ao equilíbrio com a natureza (a paisagem faz todo esforço parecer menor); à aceitação dos parâmetros impostos pelo local; a um estado de “transe” onde é possível se sentir empolgado e forte apesar de suado, ferido e sujo.


A mente domina o corpo. Suas pernas agem conforme sua vontade prevalece. Sentir-se animado e focado é muito importante. Num ambiente que, apesar de fascinante, nos é desfavorável, o cérebro precisa estar ligado: sempre alerta, como dizem os escoteiros, para fazer do nosso corpo mais selvagem. Um leão! Uma leoa!


A natureza encanta com suas paisagens, medos e mistérios. Até o perigo que nela existe é empolgante. Atrai! Esteja animado a encontrar e viver situações totalmente únicas, mas sempre esperto — quero dizer focado — àquilo que almeja alcançar. Tudo depende de você! Trabalhe para fazer o melhor abrigo, a melhor canoa, para acordar na hora certa e conseguir partir a tempo. O que completa o ciclo de exigências da vida na natureza é a certeza daquilo que é preciso fazer a todo momento. E isso é ter foco, nosso quarto atributo.


Foco sempre é importante, seja qual for o lugar. Mas, tendo-se poucos recursos e diante da imprevisibilidade do terreno, o fazer com empenho se torna mais urgente. Não desanime, não se afobe, não se esqueça de suas necessidades básicas. A improvisação leva à adaptação. O entusiasmo foca. A coragem dita o rumo. O espírito comanda adiante!


O BOM AVENTUREIRO E AVENTUREIRA SABEM QUE ADENTRAR A NATUREZA SELVAGEM NOS OBRIGA A ASSUMIR UMA OUTRA MEMBRANA DE NOSSO SER SOCIAL, UM ESTADO DE ALERTA POR ASSIM DIZER. UM SER HUMANO ADAPTADO AO MEIO, CAPAZ DE IMPROVISAR PARA OBTER O QUE QUER, ENTUSIASMADO POR VIVER UMA EXPERIÊNCIA NUM AMBIENTE QUE LHE É HOSTIL E TOTALMENTE FOCADO EM SEUS OBJETIVOS. É COMO LIGAR UMA CHAVE. VIRAMOS MAIS PRIMITIVOS E PREPARADOS.



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"Sempre que viajava para o sítio, no interior, ainda criança e na adolescência, eu percebia o quão não ligava para a TV enquanto estava lá. Passavam-se dias sem eu sequer olhar para a tela (vá, às vezes, depois do café da manhã, assistia um desenho ou jogava um pouco de videogame). Isso porque o tempo todo passava brincando na natureza com meu primo e amigos. Só queria isso! Também notava como minha avó, para preparar a galinha, pegava uma delas no galinheiro e ela própria a matava, despenava, tirava as vísceras e cozinhava. Nós fazíamos isso também quando pescávamos. Muito eu aprendi e vivi no sítio. Coisas que me marcaram e, depois, pude vivenciar novamente em minhas excursões na natureza. Só mais velho pude entender, então, porque, crescendo na cidade, sempre fui desapegado de certas coisas. Era um pouco da vida rural, de certa forma, selvagem daquele lugar guardado em mim. A natureza usou o sítio para plantar uma semente. Ela me moldou."


A natureza é um lugar que nos forja a sermos melhores. Mais abnegados, mais preparados, mais cientes do valor das coisas. Os dias que passamos em contato com ela criam em nosso íntimo o sentimento de que, na vida cotidiana da cidade, somos rodeados e bombardeados por inúmeras facilidades. Muitas delas, hoje quase indispensáveis, nem mesmo existiam não muito tempo atrás: que o diga a faz-tudo internet, surgida nos anos 1990 e mais aplicada ao nosso cotidiano já no novo milênio. Essas lembranças "selvagens", carregadas para a cidade, contribuem na formação de um ser humano mais livre, capaz de se virar diante de desafios e situações adversas que volta e meia podem surgir. Passe uns dias acampando e verá como um wi-fi ou a boca do seu fogão têm valor. Mas se, por causa de uma hecatombe, não puder usá-los, você dará um jeito para fazer sua janta bastante animado. §


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QUEM
ESCREVE

O autor, ALLAN KRONEMBERG,

é jornalista, ex-militar e o criador

da marca NA FRONTEIRA. Desde novo,

Allan é aficionado por histórias

de exploradores, filmes de cowboy

e livros sobre os mais variados

temas e aventuras (com destaque

para as obras de Hemingway,

Jack London, os poemas de Bukowski,

frases de Twain e os contos hiborianos

de Howard - inclua as páginas de

"O tempo e o vento", de Érico Veríssimo,

nessa lista mais as notas pujantes de uma

canção do The Cult). Tornando-se

ele mesmo, pelos anos, um aventureiro,

Kronemberg sempre buscou na

natureza selvagem - e numa garrafa

de whisky, ele diria - a inspiração

para a vida e suas próprias estórias.

Foi dele a ideia de tornar

a NA FRONTEIRA, além de uma

grife de roupas, uma revista sobre

os mais diversos assuntos pertinentes

à rotina e aos gostos dos clássicos

aventureiros; homens e mulheres

com o espírito da tempestade

em seu sangue.

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